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As frutas do Nordeste


Manga, jambo, pitanga, acerola, cajá, fruta-pão, as variedades frutíferas nordestinas são de dar água na boca. E muitas mordidas! Desvende as expressões típicas do Nordeste e assista ao vídeo.

Por Ana Kessler 17/jan/2013 23:46
Se houve uma coisa boa nessa nossa viagem pelo Nordeste foi a degustação da incrível variedade e qualidade de frutas. Ô terra rica para ter sabores diferentes e vocabulário engraçado. Cada manga arretada, jambo aguado, caju travoso porque “não estava bom pra chover”. Eita pitanga azeda da peste, laranja cravo que é a nossa tangerina, fruta-pão que se cozinha feito macaxeira. E o cajá que ingripa a hélice do liquidificador? Aguenta as pontas que já traduzo essa salada de palavras e expressões. 

Uma vez li uma reportagem que dizia que, se oferecêssemos todos os sabores (o salgado, o amargo, o ácido, o azedo e o doce) à criança até os dois anos de idade, ela abriria o leque gustativo e comeria de tudo na vida. Deu certo. Até os dois anos. Depois disso, Ana Bia virou uma natureba cricri. Mamão, que era a fruta preferida nas papinhas de sobremesa, ela não pode ver na frente. Melão, nem pensar. Abacaxi, eca. Morango e melancia, antes adorados, foram extirpados do cardápio. Sobreviveram ao seu rigoroso critério: banana, maçã, tangerina, uvas Thompson, laranja e, se estiver de muito bom humor, caju. Isso, até viajarmos.

Essa mesma matéria garantia que, se não déssemos chocolate ou qualquer outro tipo de doce artificial, a criança cresceria longe deles. Isso deu supercerto! Mas me causa problemas em festas infantis: Ana Bia não come bolos, nem docinhos, abomina refrigerantes, pirulitos ela lambe e bota fora. Se não há suco, passa a água. Por algum motivo que desconheço (talvez por eu não ser fã), jamais gostou de salgadinhos, batata-frita, cheeseburgers, cachorro-quente, junk food em geral. Aí, complica a ponto de ela associar aniversários de amiguinhos a dor de cabeça – de fome! O que eu faço? Levo sempre na bolsa uma fruta e um suco de caixinha. É mico, eu sei. Me olham com cara de “ih, que mulher esquisita”. Mas é um preço que fico feliz em pagar.

Frutas integram-se ao visual decorativo da nossa cozinha assim como os azulejos retrô, a galinha puxa-saco pendurada ao lado da pia, os ímas e fotos da geladeira. Se olho para a fruteira e ela está nua, e principalmente se o cacho de bananas está terminando, começo a ter tiques nervosos. Sou viciada. Adoraria ter um pé-de-tudo brotando das quinas e esquinas da casa, bastando para isso estender a mão e se lambuzar. Experiência esta que tivemos no idílico sítio dos nossos tios em Recife.

Da manga rosa, Bia não provou o sumo. Da Tommie, lambeu e não gostou. Pitanga, adorou colher. Amora, comeu até o caroço (veja o vídeo para entender a piadinha). Fruta-pão causou curiosidade. O cajá, azedo que dói, nem eu gostei. Da graviola, adotamos o suco. O caju, por causa da seca, não deu muito este ano. Jaca, sai de baixo que se cai na cabeça mata, nos matou de intriga: parece borracha. Acerola é gostosa, mas as galinhas não comem as que caem no chão. Nem a Ana Bia. Já eu adorei o azedinho e não fiz esta desfeita.

Jambo recebe olhares desconfiados da baixinha e estou decidindo se aprovei. Os maduros são quase doces, impliquei com a aparência: brancos por dentro, vermelhos por fora, me lembraram rabanete, que não gosto. A grande surpresa foi o coco. Depois de anos morando no Rio, indo à praia direto e rejeitando a oferta, Ana Bia experimentou novamente e desta vez aprovou. Água de coco, então, entrará definitivamente para as nossas vidas, assim como as lembranças boas desta viagem.

Saldo final de frutas (e outras coisitas) provadas e aplaudidas, que serão incorporadas ao cardápio nosso de todo dia: água de coco, amoras (se encontrarmos em São Paulo), banana com mel (nova modalidade), mangas mil (até com casca), caju cristalizado, leite e queijo de cabra e a oitava maravilha do mundo, a versátil tapioca, que não contém glúten e arrebatou o coração da Ana Bia e desta mãe irremediavelmente.

E você, o que trouxe de novidade à sua vida das férias?
                                     
                                                                      *
Traduzindo o "nordestinês":

Manga arretada, é manga danada de boa. Ótima. Deliciosa. Irresistível. Tão boa que não dá pra parar de comer. E como é uma fruta calórica, já viu, você pode avaliar o risco que eu corri nestas férias arretadas. Jambo aguado, diferente do que pode parecer, não é abundante em água. "Aguado", em Pernambuquês, quer dizer "pouco doce", sem muito açúcar. Ou seja, jambo bom é aquele recém caído do pé, madurinho de dar gosto. E que gosto!

Caju travoso, você sabe o que é? É quando ele "trava" na língua, porque a consistência não está muito boa, nem o sabor mui docinho. Já o “está bom pra chover” é uma expressão tipica da região da seca, quase um pedido para que São Pedro mande uma aguinha amiga do céu e salve a safra do ano.

Eita pitanga azeda da peste quer dizer isso mesmo. Já laranja cravo é como eles chamam a tangerina, lá no sul conhecida como bergamota. Outra curiosa é a tal fruta-pão, massuda e que se cozinha feito macaxeira, digo, mandioca, ou melhor, aipim. E ocajá (foto) que ingripa a hélice do liquidificador, descobriu o que significa? A semente do cajá é tão dura que, se você tentar fazer suco com a frutinha inteira, ela vai quebrar o eletrodoméstico. Adivinhe como o meu tio descobriu a expressão? Quebrando o dele, claro...





Fonte :  De mãe pra mãe / Beleza,saúde e moda com styllo

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